Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Serigrafia
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A impressão de uma estampa por processo de estêncil é uma das mais antigas técnicas que se conhece. Os chineses e japoneses usavam-na já em impressão de tecidos e papéis decorativos, alcançando um extremo requinte. No Ocidente, o processo já era conhecido, no século XVI, tanto para imprimir cartas de jogar como meio de colorir xilogravuras. A impressão de estêncil era usada com fins quase que exclusivamente ligados a produtos de artesanato e manufatura. Na França, alcançou grande popularidade graças a Jean Papillon, fabricante de papéis de parede.
Posteriormente sua utilização se ampliou com propósitos comerciais: cartazes, displays, brinquedos, tecidos e tantos outros produtos já usavam silk-screen como processo econômico de produção de imagens coloridas. Somente por volta de 1936, graças à influência de Anthony Valonis, é que alguns artistas começaram a perceber o potencial do silk-screen como meio de expressão artística. Foi Carl Zigrosser, historiador de arte e curador do Museu de Arte Moderna de Philadélfia, que pela primeira vez usou o termo "serigrafia" para identificar as estampas desenvolvidas nessa técnica, com propósitos não comerciais. Com isso pretendeu desvincular do nome silk-screen, já comprometido com produções estritamente comerciais, das novas experiências de caráter artístico. A serigrafia baseia no seguinte princípio: uma película é fixada sobre uma tela de seda ou nylon, esticada firmemente nas extremidades de um bastidor. A estrutura da tela deve ser tal que permita, por pressão de um rodo, ser atravessada em sua trama pela tinta. As áreas de imprimir são "abertas" na película. As áreas que não receberão impressão são bloqueadas por essa mesma película ou emulsão fotográfica, quando for usado processo fotográfico de fixação de imagem. Basicamente, na tela de nylon, cada cor tem uma matriz. É a soma destas matrizes que organiza o projeto do qual resulta a imagem. A serigrafia não utiliza como as demais técnicas, a prensa. Vasarely é o exemplo de um artista que usou a serigrafia em toda sua extensão e possibilidades. Suas estampas chegam às vezes a ter mais de 50 telas para formar uma imagem. Certos processos mistos se apóiam nas enormes possibilidades de serigrafia.