Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
Voltar
Kazuo Wakabayashi
Voltar
A0327
Kazuo Wakabayashi (Kobe, Japão 1931). Pintor. Em 1944, estuda na Escola Técnica de Hikone, em Shiga, Japão. Entre 1947 e 1950, freqüenta a Escola de Belas Artes e a Academia Niki, em Tóquio, e as aulas de desenho e pintura de Kanosuke Tamura. De volta a Kobe, prepara-se para ingressar na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Tóquio, porém abandona a arquitetura em 1950, voltando-se para a pintura. No ano seguinte, integra o grupo Babel, ao lado de Rokuichi, Kaibara, Ko Nishimura e outros. Em 1953, torna-se membro do grupo Seiki e publica álbum de pinturas e poesias e, em 1954, participa do Delta, além de ilustrar os jornais Shinko Shimbum e All Sports. Entre as décadas de 1940 e 1960, participa de salões japoneses recebendo prêmios em 1947, 1950, 1954 e 1959. Em 1961, transfere-se para São Paulo e torna-se membro do Grupo Seibi, apresentado por Manabu Mabe (1924 - 1997) e Tomie Ohtake (1913). Dois anos depois, recebe medalha de ouro tanto no 12º Salão Paulista de Arte Moderna como no 7º Salão do Grupo Seibi de Artistas Plásticos. É agraciado com o primeiro prêmio no Salão de Abril do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1966. Participa de diversas edições da Bienal Internacional de São Paulo, entre 1963 e 1967, quando é premiado. Em 1992, publica-se o livro Wakabayashi, com apresentação do crítico Jayme Mauricio, e, no ano seguinte, o Paço das Artes, em São Paulo, apresenta uma retrospectiva de sua obra.
Comentário Crítico
Quando Kazuo Wakabayashi chega ao Brasil, em 1961, já é um pintor maduro. Ele desenvolve uma obra abstrata de orientação informal, cuja principal característica é a pesquisa de técnicas, cores e materiais. Trabalha com contornos rigorosos e cores intensas, às vezes, experimentando multiplicar as formas enquanto caracteriza cada uma com alguma diferença em relação às demais, como em Contraponto, 1970, e Sem Título, 1966. Em diferentes obras, cria ritmos com relevos e texturas em superfícies monocromáticas, como em Vermelho, 1964, e Abstração, ca.1960. Em outras, ainda, estabelece relações entre formas e texturas diversas, como em Abstração Azul, 1968, e Abstração Amarela, s.d.
A partir do fim dos anos 1970, Wakabayashi se interessa mais pelo aspecto da textura e do relevo na pintura, muitas vezes optando por trabalhá-los de maneira quase uniforme em toda a superfície da tela, como em Composição em Amarelo, 1971 - na qual a atenção do espectador é conduzida por duas linhas amarelas que limitam verticalmente uma seção do quadro à direita -, ou restringindo textura e relevo dentro de uma superfície circular, como em Composição em Branco, 1983. Nessa obra, o artista parece raspar a tinta, criando uma linha que corta horizontalmente o círculo e revela um fundo avermelhado, logo abaixo dessa linha, uma seção do mesmo círculo não recebe a textura do restante da forma. Em Composição Abstrata, 1970, algo semelhante se dá, desta vez, no entanto, uma esfera é cortada verticalmente, revelando seu interior vermelho.
Wakabayashi desenvolve, num período posterior, trabalhos que remetem à tradição da gravura japonesa ukiyo-e, que trata principalmente de temas da natureza e figuras humanas, como também utiliza estampas de tecidos japoneses colados sobre as telas. Nessas obras, feitas de colagem e pintura, convivem as estampas apropriadas e a pintura que cria texturas, estas podendo se sobrepor ou justapor às primeiras, como em Insinuação em Negro, 1988, Sem Título, 1987, e Composição em Relevo, 1983. Alguns trabalhos ganham títulos que passam a remeter ao tema tratado - é o caso de Onda, 1987, e Mensagem do Mar, 1987.