Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Luiz Aquila
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A0294
Luiz Aquila da Rocha Miranda (Rio de Janeiro RJ 1943). Pintor, desenhista, gravador, professor. Em 1959 e 1960, tem aulas de pintura com Aluísio Carvão e de xilogravura com Oswaldo Goeldi. Muda-se para Brasília em 1962, e freqüenta cursos no Instituto de Arte e Arquitetura da Universidade de Brasília - UnB como aluno livre. Em 1965, recebe bolsa do governo francês e reside na Cité International des Arts [Cidade Internacional das Artes], em Paris. Nesse ano, viaja para Lisboa, e trabalha na Sociedade de Gravadores Portugueses. Permanece na Europa até 1968, quando volta ao Brasil e torna-se professor de desenho e plástica da UnB, função que exerce até 1972. Em seguida, vai a Londres e estuda gravura na Slade School of Fine Arts. Em 1978, coordena o Centro de Criatividade de Brasília, um projeto da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco, e expõe na 27ª Bienal de Veneza. De 1979 a 1986, leciona pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro, período em que exerce importante papel na formação dos jovens artistas da Geração 80. Em 1988, torna-se diretor dessa instituição, cargo que ocupa até 1990. Participa da 17ª, 18ª e 20ª Bienal Internacional de São Paulo em 1983, 1985 e 1989. Em 1988, transfere-se para Petrópolis, Rio de Janeiro. Em 1992, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ e, em 1993, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp realizam mostras retrospectivas de seu trabalho.
Comentário crítico
Luiz Aquila começa a definir sua pintura nos anos 1970, ao realizar obras sobre papel, ligadas à abstração informal, nas quais a gestualidade é associada à geometria. Como nota o crítico Casimiro Xavier de Mendonça, as telas da década de 1980 são muito elaboradas, com espaços bem definidos, e o artista tem um ponto de partida intimista. Nesses trabalhos, concilia formas orgânicas e inorgânicas, e cria obras que evocam quase uma aerofotogrametria da paisagem.
Em suas telas de grandes dimensões se destacam as superposições de massas de cor e as transparências, em superfícies vibrantes, cujo efeito é obtido pelo ritmo das pinceladas. Na produção do fim dos anos 1980, o artista revela preocupação com a horizontalidade e cria efeitos visuais que parecem prolongar-se de tela para tela, como temas contínuos, retrabalhados em nuances diversas.
A obra de Luiz Aquila obtém grande destaque ao longo da década de 1980, quando realiza várias exposições. Por sua produção artística e também pela atuação como diretor e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro, é considerado um dos grandes incentivadores e uma referência para um grupo de artistas conhecido como Geração 80, ligados à revalorização da pintura, em oposição à vertente da arte conceitual, que tem maior presença no Brasil nos anos 1970.
Comentário crítico
Luiz Aquila começa a definir sua pintura nos anos 1970, ao realizar obras sobre papel, ligadas à abstração informal, nas quais a gestualidade é associada à geometria. Como nota o crítico Casimiro Xavier de Mendonça, as telas da década de 1980 são muito elaboradas, com espaços bem definidos, e o artista tem um ponto de partida intimista. Nesses trabalhos, concilia formas orgânicas e inorgânicas, e cria obras que evocam quase uma aerofotogrametria da paisagem.
Em suas telas de grandes dimensões se destacam as superposições de massas de cor e as transparências, em superfícies vibrantes, cujo efeito é obtido pelo ritmo das pinceladas. Na produção do fim dos anos 1980, o artista revela preocupação com a horizontalidade e cria efeitos visuais que parecem prolongar-se de tela para tela, como temas contínuos, retrabalhados em nuances diversas.
A obra de Luiz Aquila obtém grande destaque ao longo da década de 1980, quando realiza várias exposições. Por sua produção artística e também pela atuação como diretor e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Rio de Janeiro, é considerado um dos grandes incentivadores e uma referência para um grupo de artistas conhecido como Geração 80, ligados à revalorização da pintura, em oposição à vertente da arte conceitual, que tem maior presença no Brasil nos anos 1970.
Nascimento
1943 - Rio de Janeiro RJ - 27 de fevereiro
Vida Familiar
É filho do arquiteto, pintor e desenhista Alcides da Rocha Miranda
Cronologia
Pintor, gravador, desenhista, professor
1959/1960 - Faz curso de pintura com Aluísio Carvão e desenho com Tiziana Bonazzola, noMuseu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1959/1960 - Estuda xilogravura com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes - Enba
1962 - Faz cursos livres de pintura, no Instituto de Arte e Arquitetura da Universidade de Brasília - UnB
1965/1967 - É bolsista do governo francês na Citè Internacionale des Arts, na França
1967 - Recebe bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para freqüentar o ateliê de gravura em metal da Cooperativa de Gravadores Portugueses, em Lisboa
1968/1972 - É professor da UnB
1972 - Com bolsa do Conselho Britânico estuda litografia na Slade School of Fine Art, em Londres, sob a orientação dos artistas Stanley Jones e Bartolomeu dos Santos
1974/1977 - Vive em Petrópolis
1977 - Leciona desenho no Centro de Estudos Brasileiros, em Lima
1978 - Coordena o Centro de Criatividade de Brasília criado pela Unesco
1978/1979 - Vive em Brasília
1979/1986 - É professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, onde monta ateliês com Charles Watson, John Nicholson e Claudio Kuperman, para demonstrar aos alunos o processo da pintura
1980 - Pinta tela de fundo para o espetáculo teatral El Día Que Me Quieras, dirigido por Luis Carlos Ripper
1980/2001 - Vive em Petrópolis nesse período
1981 - Publica o livro Carnaval, de desenhos feitos a partir de poemas de Eudoro Augusto - Edição Massao Ohno/Aluísio Leite/Roswitha Kempf
1983 - Pinta mural para o Chase Manhattan Bank de Curitiba
1984 - Leciona pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ
1984 - Realiza pintura coletiva A Grande Tela, com John Nicholson e Claudio Kuperman, na Galeria Candido Mendes, no Rio de Janeiro
1985 - Visita museus, galerias e instituições de arte na Alemanha
1985 - Cria e executa cenário para o espetáculo de dança de Regina Miranda no Festival International Le Ballet Pour Demain, em Bagnolet, França
1985 - Homenageado por seus alunos da EAV/Parque Lage com a exposição Ao Mestre com Pintura
1985 - Evento Luiz Aquila por toda a Cidade, com exposições simultâneas em São Paulo e Rio de Janeiro, em locais públicos e galerias
1988 - Transfere-se para Petrópolis, onde mantém residência e ateliê
1988/1990 - Diretor da EAV/Parque Lage
1989 - Coordena oficina de pintura no 2º Festival Latino-Americano de Arte e Pintura, na UnB
1991 - É agraciado com a Ordem do Rio Branco, no grau de oficial
1993 - Participa de um evento onde faz um outdoor em homenagem a Mário de Andrade (1893 - 1945) no Centro Cultural São Paulo - CCSP
1997 - Recebe a Ordem de Chevalier des Arts et Lettres do Ministério da Cultura da França
2001 - Realiza a obra A Pintura e o Nosso Losango, um painel de 16 x 12 m, que está nos jardins do Museu Imperial, em Petrópolis
Críticas
'Quando Luiz Áquila começou a definir a sua pintura, no início dos anos 70, o olhar brasileiro já perdera a referência de cultivar uma pintura de qualidade, onde não é o primeiro impacto visual que conta, onde é preciso descobrir a grafia e a qualidade da pincelada, da matéria e da textura do quadro. É que na época, a grande maioria da produção brasileira navegava em outras direções. Aquila manteve-se fiel a telas muito elaboradas, mas bastante emocionais, seu ponto de partida é sempre introspectivo e mesmo que o espaço seja bem definido, as pinceladas são livres e soltas. Tal coerência e sua atividade didática fizeram com que ele se transformasse num pólo de referência para uma geração de jovens que desejava voltar a descobrir a qualidade da pintura'.
Casimiro Xavier de Mendonça
MENDONÇA, Casimiro Xavier de. [texto]. In: GALERIA MONTESANTI. A Presença da Pintura: catálogo. São Paulo SP, 1987
'A pintura de Áquila, que já foi classificada como uma espécie de informalismo tropical e como uma aerofotogrametria da paisagem, caracteriza-se pelo cromatismo vibrante e pelo jogo de tensões entre formas que não nascem ao acaso na superfície do quadro, mas antes se equilibram e se completam. Manchas de cor e linhas ziguezagueantes convivem nesses enormes suportes, nos quais por vezes pode-se adivinhar restos de objetos, sugestões paisagísticas e mesmo formas orgânicas fragmentadas'.
José Roberto Teixeira Leite
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
'Áquila, que tem um olho treinadíssimo, costuma dizer que esse olho está sempre em serviço, discriminando, selecionando, hierarquizando. O que ele faz, o tempo todo, é transformar estas sensações cotidianas - cromatismos, formalismos, tactilidades, temperaturas, sonoridades e olfações - em pintura. Conhece e pede que conheçamos a história da arte, mas não faz pintura em tese, nem transforma cada quadro em uma charada a ser decifrada. Busca também o frescor das idéias e sensações.
Assim, quando nos diz, com uma ponta de ironia, que está analisando as condições para a pintura, ou que está em conversações com a pintura, podemos aceitar como verdadeiras estas afirmações contidas nos títulos de suas telas. Aquila procura manter seu processo de criação em aberto, sujeito a alterações, o quadro fluente, em andamento. O quadro vai nascendo ali, no corpo-a-corpo com a matéria com que constrói sua pintura, num diálogo ativo e inteligente'.
Frederico Morais
MORAIS, Frederico. In:Dan Galeria expõe as pinturas de Luiz Aquila. Org. : Gláucia S. Cohn. Dan Galeria, Rio de Janeiro RJ, 1993, p. 24.