Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Inos Corradin
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A0060
Nascimento
1929 - Vogogna (Itália) - 14 de novembro
Cronologia
Pintor, cenógrafo, gravador, desenhista
ca. 1932 - Castelbaldo (Itália) - Muda-se com a família, onde passa a infância e a juventude
1945 - Castelbaldo (Itália) - Estuda Pintura com o professor Tardivello
1947 - Castelbaldo, Padova (Itália) - Colabora como o pintor Pendin na execução de um mural referente aos mártires da resistência italiana
1950 - Vive em Jundiaí e São Paulo, SP
1951 - São Paulo SP - Faz parte do núcleo artístico Cooperativa em São Paulo, dirigido pelo pintor argentino Oswaldo Gil Navarro
1954 - São Paulo SP - Executa cenários para o Ballet do IV Centenário de São Paulo
1957 - Ibiúna SP - Começa uma nova fase de sua vida. Em Ibiúna, pinta e trabalha com madeireiros, conhecendo por alguns anos a vida no campo
1979 - Rovigo (Itália) - É contratado para pintar um cenário de 8 x 11 m para o Teatro de Rovigo
Críticas
'... A observação detida de um quadro de Inos Corradin nos obriga, de início, a encarar a estranheza da cor, o requinte da matéria sobre a qual entranha esta cor indefinida, suporte de todas as cores, sumo esmagado e cozido do espectro solar, palpitante e macio como um organismo vivo. Introduzidos pela cor, oscilamos entre o jogo picaresco da estilização e espaço metafísico onde as formas se distribuem como detalhes de um brinquedo fantástico. A figura humana assume a forma dos bonecos articulados, disfarçando no sal do humor o desacerto e a perplexidade do homem contemporâneo. O conteúdo lírico desta pintura avança na progressão direta da pesquisa construtiva da composição, no filtro geometrizado pelo qual as formas são medidas, transformando o visível numa espécie de equação luminosa. Assumindo, ainda, mais uma cenografia e um disfarce que refaz o timbre jocoso da Commedia Dell´Arte, Inos Corradin integra nesta dicção plástica o ex-voto, a paisagem e o homem brasileiro, nivelando todas as referências sob o prisma de uma linguagem muito pessoal. Coexiste nele, ainda, um desenhista de humor empenhado talvez numa tarefa especial de identificar o instante com um desanuviado otimismo. (...)'.
Walmir Ayala
LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984-.