Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Helenos
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A0056
Edson Heleno da Silva (Recife PE 1941). Pintor, ilustrador, desenhista, gravador e publicitário. Começa a pintar aos 19 anos de idade, ilustrando painéis de instrução para cursos militares internos em Recife (Pernambuco). Na década de 60, produz faixas e cartazes para as campanhas políticas de Miguel Arraes, inicia seus trabalhos no campo publicitário e de ilustração, e realiza sua primeira individual na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Entre 1968 e 1974, produz documentários para as TV Cultura de Pernambuco e de São Paulo.
Nascimento
1941 - Recife PE - 20 de abril
Formação
1960 - Recife PE - Autodidata, começa a pintar aos 19 anos. Ilustra painéis de instrução para cursos militares internos
Cronologia
Pintor, ilustrador, desenhista, gravador, publicitário
1962 - Recife PE - Confecciona faixas e cartazes para campanhas políticas de Miguel Arraes
1963 - Recife PE - Inicia trabalhos no campo publicitário, ilustração e leiauteman
1968/1974 - Pernambuco e São Paulo - Realiza curta-metragem para a TV Cultura de Pernambuco (1968), TV Cultura de São Paulo (1974) e documentário (1982)
1969 - São Paulo SP - Fixa residência
Críticas
'A temática de Helenos é uma crítica do mundo contemporâneo com as suas destruições ecológicas, a sua alienação do homem pela engrenagem tecnológica e econômica, as suas guerras e violências e o seu abandono das crianças. Como os grandes artistas do pop americano, Helenos veio da publicidade e da história em quadrinhos. Isto lhe deu o domínio de uma técnica de comunicação visual altamente eficiente para o público contemporâneo, já habituado à linguagem visual e ao desenho publicitário. Contudo, a pintura de Helenos pouco tem a ver com o pop. Helenos é dotado de um lirismo e de uma esperança profundamente arraigada no futuro, que conferem um encanto particular às suas telas. Há nelas uma nostalgia pela humanidade simples e direta, simbolizada pelas crianças. A sua ternura e simplicidade emanam de sua personalidade de artista de origem popular, filho de marítimo, trabalhador da construção civil, soldado, pintor de faixas de publicidade. As crianças aparecem em todas as telas de Helenos. Ora representam uma nova raça alada do futuro, trazendo promessas de tempos melhores. Ora são crianças melancólicas do mundo de hoje. Ora símbolos de uma vida mais condizente com a verdadeira natureza humana. Helenos possui uma personalidade artística bem marcada, reunindo qualidades que em geral parecem se excluir. Consegue combinar uma certa qualidade bem atual, ligada à publicidade e à sociedade de consumo, com algo de ficção científica, tudo permeado de muita pureza e calor humano, como na pintura popular dos ´naifs´'.
Mário Schenberg
HELENOS: 25 anos de pintura. João Martini. s.l., Gráfica Martini, 1984. Contém 28 lâminas soltas.
'Os trabalhos de Helenos destacam-se por sua atmosfera lírica tanto nos motivos (casais de namorados em bancos, marinheiro sonhador sentado na praia enquanto no mar tranquilo desliza um pequeno navio, duas figuras femininas unidas num terno abraço, superposição de imagens fundindo de forma surrealista figuras humanas com gatos, etc.) como no desenho e colorido dos quadros, em que a emoção sobressai nos traços finos e delicados que delineiam personagens e paisagens, e também no cromatismo, as cores fortes criando belos contrastes com outras esmaecidas e o branco. A pintura de Helenos é romântica sem ser piegas , revelando sua nostalgia de valores espirituais, hoje praticamente desaparecidos, marcando seu envolvimento com o mundo da infância, um namoro constante com o passado, inclusive na maneira de vestir de alguns personagens. A perspectiva e as proporções obedecem à própria necessidade criativa do artista, que não se preocupa em retratar com objetividade a
realidade externa, apesar de vários desses quadros terem sido pintados na praia de Piedade, em Recife, quando ele estava envolvido com sua paisagem e sua gente. Helenos é um artista que põe seus amplos recursos técnicos como pintor a serviço de uma visão extremamente singular e poética do mundo'.
Paulo Azevedo Chaves
HELENOS: 25 anos de pintura. João Martini. s.l., Gráfica Martini, 1984. Contém 28 lâminas soltas.