Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Hector Julio Paride Carybe
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A0018
Hector Julio Páride Bernabó (Lanús, Argentina 1911 - Salvador BA 1997). Pintor, gravador, desenhista, ilustrador, mosaicista, ceramista, entalhador, muralista. Freqüenta o ateliê de cerâmica de seu irmão mais velho, Arnaldo Bernabó, no Rio de Janeiro, por volta de 1925. Entre 1941 e 1942, viaja por países da América do Sul. De volta à Argentina, traduz com Raul Brié, para o espanhol, o livro Macunaíma, de Mário de Andrade (1893 - 1945), em 1943. Nesse mesmo ano, realiza sua primeira individual na Galeria Nordiska Kompainiet, em Buenos Aires. Em 1944, vai a Salvador, e se interessa pela religiosidade e cultura locais. No Rio de Janeiro, auxilia na montagem do jornal Diário Carioca, em 1946. É chamado pelo jornalista Carlos Lacerda (1914 - 1977) para trabalhar no jornal Tribuna da Imprensa, entre 1949 e 1950. Em 1950, muda-se para Salvador para realizar painéis para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, com recomendação feita pelo escritor Rubem Braga (1913 - 1990) ao secretário da Educação do Estado da Bahia, Anísio Teixeira (1900 - 1971). Na Bahia, participa ativamente do movimento de renovação das artes plásticas, ao lado de Mario Cravo Júnior (1923), Genaro (1926 - 1971) e Jenner Augusto (1924 - 2003). Em 1957, naturaliza-se brasileiro. Publica, em 1981, Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia, pela Editora Raízes. Ilustra livros de Gabriel García Márquez (1928), Jorge Amado (1912 - 2001) e Pierre Verger (1902 - 1996), entre outros.
Comentário Crítico
Desde de 1950, quando fixa-se definitivamente em Salvador, Carybé interessa-se especialmente pela religiosidade e pelos costumes locais e também pelo cotidiano de pessoas humildes, como pescadores, vendedores ambulantes, capoeiristas, lavadeiras e prostitutas, temas constantes em sua produção. Como aponta o crítico Flávio de Aquino, o artista apresenta, em suas aquarelas, cores mais rebaixadas e esmaecidas, que se avivam nos quadros a óleo, como, por exemplo, naqueles em que representa as feiras populares do interior da Bahia.
Para o historiador da arte José Roberto Teixeira Leite, Carybé é um desenhista que possui agilidade de execução e consegue captar em seus trabalhos o essencial de uma forma ou de um movimento. O artista realiza ainda diversos painéis, a exemplo do que se encontra no Aeroporto J. F. Kennedy, de Nova York, no qual trabalha com materiais diversos, e daquele realizado para o Banco da Bahia, composto por 27 pranchas esculpidas em cedro representando os orixás do candomblé.
Nascimento/Morte
1911 - Lanús (Argentina) - 7 de fevereiro. Naturaliza-se brasileiro em 1957
1997 - Salvador BA - 2 de outubro
Formação
ca.1925 - Rio de Janeiro RJ - Inicia atividades em artes freqüentando o ateliê de cerâmica do seu irmão mais velho, Arnaldo Bernabó
1927/1929 - Rio de Janeiro RJ - Freqüenta a Escola Nacional de Belas Artes - Enba
1958 - Nova York (Estados Unidos) - Bolsa de estudos
Cronologia
Pintor, gravador, desenhista, ilustrador, mosaicista, ceramista, entalhador, muralista