Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Fang
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A0040
Kong Fang Chen (Tung Cheng, China 1931). Pintor, desenhista, gravador e professor. Estuda sumiê e aquarela na China em 1945. Vem morar em São Paulo com a família em 1951, naturalizando-se brasileiro em 1961. Entre 1954 e 1956, estuda pintura com Yoshiya Takaoka (1909-1978) em São Paulo. Faz sua primeira exposição individual em 1959, no Clube dos Artistas Plásticos de São Paulo. Entre 1965 e 1967, tenta a linha abstracionista, que abandona para retornar ao figurativismo. Em 1972, leciona na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Viaja, em 1977, para a América do Norte, Europa e Ásia, onde desenvolve o seu trabalho de pintura. Em 1981, é realizado o curta metragem biográfico O Caminho de Fang, em São Paulo. Visita a China convidado pelo governo chinês em 1985, visitando locais de interesse artístico.
Nascimento
1931 - Tung Cheng (China)
1961 - São Paulo SP - Naturaliza-se brasileiro
Formação
1945 - Tung Cheng (China) - Estuda sumiê e aquarela
ca. 1954/1956 - São Paulo SP - Estuda Pintura com Yoshiya Takaoka (1909-1978)
Cronologia
Pintor, desenhista, gravador, professor
1951 - São Paulo SP - Muda-se com a família para essa cidade
1972 - São Paulo SP - Leciona na Faculdade de Belas Artes
1977 - América do Norte, Europa e Ásia - Vai para o exterior onde desenvolve sua pintura e seus estudos
1981 - São Paulo SP - É realizado um curta-metragem biográfico O Caminho de Fang
1985 - China - A convite do governo chinês, visita locais de interesse artístico
1989 - São Paulo SP - Homenageado Artista de Honra da 12º Exposição de Arte Contemporânea Chapel Art Show
Críticas
'Depois do período de aprendizado (com Takaoka), Fang iniciou a procura de seu próprio caminho artístico. No desenho, e por bastante tempo, ele se deliciou com o assunto dos cavalos em movimento, que aprendeu com seu mestre. Mas na pintura logo surgiram tendências que o afastaram do mestre. Uma inclinação para o dramático, o sofrido, o largado. Mendigos, bêbados deitados dramaticamente nas calçadas das ruas, favelas, casario antigo, meio abandonado e arruinado, animais em situações estranhas são seus assuntos prediletos. Talvez um eco dos sofrimentos dramáticos da guerra, que sofreu em tão tenra idade na pátria de nascimento. Tendências claramente expressionistas, porém, ainda sem a liberdade das deformações expressivas e expressionistas. Ele se mantém, por enquanto, dentro dos limites do naturalismo. (...) Como 'intermezzo' em seu desenvolvimento, entrou a tentativa do abstracionismo. Pressionado pela moda da Pintura Abstrata que dominava o País, ele tentou, entre 1965 e 1967, tornar-se abstrato. Foram anos de sofrimento. O abstracionismo não estava em seu sangue. (...) A onda da nova figuração que invadiu o País libertou-o desses anos de sofrimento. Ele voltou aos seus temas figurativos e prediletos: casario, plantas, naturezas-mortas, paisagens, brinquedos de criança, etc. (...) Ele retomou os seus antigos temas figurativos prediletos (antes das tentativas abstratas) e desenvolveu, aos poucos e progressivamente, aquilo que chamamos de expressionismo oriental (...)'.
Theon Spanudis