Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Antônio Peticov
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A0310
Antonio Peticov (Assis SP 1946). Desenhista, gravador, escultor e pintor. Com produção diversificada, Peticov trabalha com pintura, desenho, gravura, escultura e ilustração. Faz instalações como Balli Ballet (1982), em Cloudwalk Farm, Connecticut, e The Big Ladder - Scala Cromatica (1983), para a New York Art Expo, nos Estados Unidos. Apresenta, em 1989, o Projeto Natura - Rio Pinheiros na 20ª Bienal Internacional de São Paulo, prevendo a plantação de várias espécies de árvores ao longo do rio Pinheiros, em São Paulo- e, em 1992, cria o Projeto Bosque Natura, para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Realiza, em 1990, o mural Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, instalado na estação República do metrô de São Paulo, em homenagem ao centenário do escritor. Em 2003, é lançado o livroTrabalhos Escolhidos, juntamente com a exposição no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp. Em suas pinturas trabalha freqüentemente com séries temáticas como a Seção Áurea e Dia e Noite, utilizando conceitos da física e da matemática, relacionados ao espectro de cores e à luz.
Comentário Crítico
Autodidata, Antonio Peticov estuda história da arte e os movimentos de vanguarda na segunda metade da década de 1960. Trabalha com pintura, escultura e instalações, apresentando uma produção diversificada. Em seus quadros, destacam-se os efeitos luminosos e a utilização de cores intensas. Neles, cria imagens oníricas alinhadas ao imaginário da publicidade.
Realiza, em 1990, o mural Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, em homenagem ao centenário do escritor, instalado na estação República do metrô de São Paulo. O espectador ao situar-se em um ponto de vista frontal em relação ao mural, vê formas ondulantes na parte central. Ao posicionar-se em um ângulo de 45 graus, passa a perceber nessas formas um rosto. O artista emprega a anamorfose,1 e explora oposições como positivo e negativo, e horizontalidade e verticalidade. Peticov emprega freqüentemente conceitos matemáticos e também da física, relacionados ao espectro de cores e à luz, criando obras de cunho simbólico.
Notas
1 Deformação de uma imagem formada por um sistema óptico.
Nascimento
1946 - Assis SP
Formação
1985 - Nova York (Estados Unidos) - Autodidata, deve sua formação artística a pesquisas pessoais sistemáticas sobre a história da arte e à sua integração nos movimentos artísticos de vanguarda, na segunda metade da década de 60 (Ex. Tropicalismo)
Cronologia
Desenhista, gravador, escultor, pintor
1970 - Londres (Inglaterra) - Vive nesta cidade
1971 - Milão (Itália) - Vive nesta cidade
1978 - Realiza o documentário Homo Faber
1982 - Connecticut (Estados Unidos) - Faz a instalação Balli Ballet em Cloudwalk Farm
1983 - Nova York (Estados Unidos) - Faz a instalação da escultura The Big Ladder-Scala Cromatica no Colosseum de Nova York, Columbus Circus, para a New York Art Expo 1983
1988 - Aiuruoca MG - The Golden Wall, início da instalação de uma escultura em adobe, em forma de grande espiral, em homenagem à cidade, junto ao Pico do Papagaio, na Serra da Mantiqueira
1989 - São Paulo SP - Apresenta, na 20ª Bienal Internacional de São Paulo, o Projeto Natura-Rio Pinheiros, prevendo a plantação de árvores de sete espécies diferentes de flores, ao longo dos 26 km do Rio Pinheiros. As primeiras 280 mudas foram plantadas (1989), entre as pontes Euzébio Matoso e Cidade Universitária
1990 - São Paulo SP - Mural Antropofágico na Estação República do Metrô
1992 - Rio de Janeiro RJ - Bosque Natura - Projeto de construção de um bosque para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no gramado do Riocentro
Críticas
'Autor de obra variada e técnica diversificada, onde se acham combinadas várias tendências da arte contemporânea, seu trabalho deve ser inserido na produção oriunda da década de 60, no bojo das renovações vanguardistas trazidas pelos movimentos internacionais como o surrealismo, o grafismo, o dadaísmo, a pop art e a livre pesquisa da chamada arte experimental. A incursão por essas e outras propostas estéticas surgidas na atualidade fica bastante evidenciada em sua pintura, onde os elementos geométricos, surreais e abstratizantes são combinados com um resultado plástico bastante satisfatório e efeitos às vezes surpreendentes'.
Adauto Silva
LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984-.