Introdução
Registro, documentação ou necessidade de expressão, sacra ou profana, o fato é que a incisão ou gravado sobre superfícies rijas está presente desde que se conhece a história do homem. É de se supor que o esforço de apropriação e revelação de seu universo, milhares de anos antes da invenção do papel e da imprensa, tenha levado o homem a uma forma de registro. Possivelmente esta intenção aliada ao gesto de gravar impregnou de características específicas aquilo que iria estruturar uma "linguagem" bem distinta da do desenho, da pintura, da escultura, da fotografia e do cinema.
A troca, a comunicação e a divulgação no momento em que o homem se organiza socialmente, e especificamente com o advento dos primeiros núcleos urbanos, criaram a necessidade de encontrar um meio de multiplicação não só de texto como também de imagens. As implicações culturais e sociais que daí advieram são indiscutíveis.
A multiplicação de um original - a partir de uma matriz geradora veio romper a tradição valorativa da peça única, provocando uma renovação que iria afetar, inclusive o conceito e as avaliações estéticas. O valor de uma obra que aumenta ou diminui pelo fato de estar limitada a um possuidor privilegiado é quando muito, posta em questão. Esse valor na obra de multiplicação aumenta na medida do seu desdobramento, uma vez que patrocina a possibilidade de um convívio sem barreiras geográficas, sociais e culturais, com imagens, conceitos permanentemente transformadores da realidade. Assim a gravura vem expressar os anseios dos homens, sociais e culturalmente distanciados e diferenciados, consignados deste modo o seu alto sentido democrático.
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Aloysio Zaluar
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A0351
Aloysio Zaluar nasceu no Rio de Janeiro (3-5-1937). De perto seguiu a movimentação da chamada 'Arte Contemporânea', através da presença internacional do abstracionismo informal- até a eclosão de uma nova forma de predominância estética e política- a Pop-Art norteamericana. Desde estudante, na Escola Nacional de Belas Artes (1956-61), o artista, deparou-se com os modelos de ocupação cultural, estratégicos, como as metas 'modernas', da política sedutora de novos produtos consumíveis.
Seguindo o ritmo febril do progresso, como artista expressionista, pesadamente pessimista, militou no Salão Nacional de Arte Moderna de 1956 a 1968. Com 'Isenção de Juri', no Salão de 68, rompeu definitivamente com a carreira de 'Artista de Salão', anunciando Macunaíma: 'Pouca Saúde E Muitos Pintores, Os Males do Brasil São!'.
Nos anos 70, como amigo e interlocutor de vários artistas de Vanguarda, presenciou a difícil trajetória destes criadores, até a academização constrangedora dos dias atuais e o inesperado abandono do conceito de Vanguarda e de Modernismo - com a derrocada ambiental provocada pela impotência do ideal de progresso. Pessimista mas bem humorado, em 1975, lançou o manifesto: Das Lupems Udigrudi (Pedra de Guaratiba - 1975) e o personagem psicossocial, Al Zalu, do Potentado de Azurara.
A partir de 1976, o artista, através das sombras periféricas da Zona Oeste do Rio de Janeiro, anunciou em suas pinturas, panfletos e reportagens, sua leitura especial, da ciranda da violência urbana, através da chamada em cima dos fantásticos mascarados do carnaval: 'O clóvis Vem Aí!'s. Trabalhando, ininterruptamente, com suas idéias, suas histórias e sua produção visual, o artista acha estranho, se ver rejeitado, quando suas propostas conhecidas, são colocadas à venda, no mercado institucional, em nome de criaturas sem imaginação e sem ética alguma.
Seu último trabalho reuniu inúmeras idéias: Rio Percusão, o Som da Forma, reunir capoeira e várias possibilidades estéticas coletivas. O local foi o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em maio de 1999. Lá foi apresentada, sempre com sucesso, sua Trapizonga - instrumento interativo ou escultura sonora. Além de inúmeras rodas de capoerira, chorinho, jongo, poesia etc. Um evento multi-disciplinar que apresentava vídeos, filmes, fotografias e uma exposição retorspectiva de Aloysio Zaluar, com montagens de imagens mecanicamente reproduzidas, reportagens, textos e idéias do artista, registradas em cartório e na memória dos amigos.'